Colunistas | Camilla Barato de Melo | “El dia de los vivos”

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Camilla Barato de Melo

 

Itirapuã:- A vida encontra maneiras muito diferentes de nos separar das pessoas. Algumas saem aos poucos, outras de uma vez, abruptamente. Em dias difíceis me lembro das pessoas que estão longe… Lembro-me de amigos que mudaram de estrada e dos meus avós que atravessaram a ponte e estão do outro lado do caminho. Nas duas situações eu enxergo a morte.

Morrer muitas vezes é escolher não saber, não encontrar, não participar…

Morrer é optar por ficar longe, fingir que não viu preferir não estar…

Não entendo esse tipo de morte, mas assumo que já a experimentei quando, tristemente, vi pessoas que considerava amigos, pelas costas… Quando eles decidiram ir, eu deixei.
Algumas faltas doem… Mas me ensinaram lições que só elas podem ensinar.

Ao contrário disso, meus avós continuam presentes todos os dias. Cada um foi embora de um jeito: Alguns lenta e dolorosamente, outros sem nem a chance de um último adeus… Mas a imagem, as histórias e o amor que eles nos haviam investido estão nos abençoando todos os dias, mantendo-os vivos em nós. E ainda assim essa ausência também dói.

A morte física muitas vezes abre um buraco que lentamente é preenchido pela energia boa e feliz dos momentos de intensa alegria nos causando um conforto cheio de paz. A morte daquilo que acreditamos abre uma ferida que não sara nunca! São as histórias que não contamos, as pazes que não fizemos, as fotos que não tiramos, os brindes que não fizemos.

Aproxima-se uma data que nos chama a lembrarmos daqueles de quem já dissemos o adeus. Na cultura mexicana, o Dia de los muertos é uma alegre e colorida festa, pois, segundo a tradição, neste dia, os mortos tem permissão divina para visitar aqueles que amam, e para “recebe-los” a família prepara uma recepção com tudo o que mais gostavam. É de uma beleza gigantesca e profunda! Que neste ano, antes de visitarmos tristemente os cemitérios abandonados nos outros 364 dias do ano, visitemos os vivos. Reunamos as famílias. Que a gente vá visitar aquela tia sozinha, aquela amiga complicada, aquele pai distante, aquele irmão do gênio difícil… Que a gente construa histórias para serem lembradas cheias de amor um dia. Que a gente tenha milhares de fotos juntos para os nossos altares físicos e emocionais. E que a gente se lembre de celebrar OS VIVOS enquanto assim estão. Por que no final, só nos sobra saudade …

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