Relembrar faz bem | Uma outra paixão de D. Fúlvia

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Continuando as homenagens à Professora Fúlvia Carvalhaes de Freitas pelo centenário de seu nascimento, é que volto a falar sobre a sua paixão pela poesia.
Era comum nas Audições de Piano, as alunas declamarem alguns poemas cuidadosamente selecionados pela D. Fúlvia, intercalando as apresentações musicais.
A partir da escolha do poema, bem como da aluna que iria declamá-lo, começavam então os ensaios que eram sempre feitos dentro do quarto da D. Fúlvia a portas fechadas.
Primeiramente, ela lia alto e várias vezes com sua voz clara e forte. Isso para que sua aluna conhecesse cada termo do poema, bem como sua correta pronúncia, prestando muita atenção à pontuação e às devidas pausas.
O título do poema e o autor, sempre indicados no início, necessitavam de uma pausa maior e outro tom de voz, antes de começar a declamação.
Terminada essa primeira etapa da leitura, era hora de levar para casa a folha datilografada pela D. Fúlvia e decorar estrofe por estrofe até a memorização completa.
A partir disso, passava-se para a próxima etapa: era chegado o momento de aprender a postura e a gesticulação que deviam acompanhar a recitação do poema.
E nisso, D. Fúlvia era mestra! Sabia como ninguém ensinar a impostação de voz em cada verso, acompanhada de gestos com as mãos e com a cabeça sempre delicados; nem muitos, nem poucos, porém, coerentes.
Cabe lembrar que D. Fúlvia era exigente e extremamente rigorosa com os ensaios. A aluna, de pé, tinha que repetir quantas vezes fossem necessárias, até que a declamação ficasse do seu gosto. A voz, ora diminuía o tom, ora aumentava com vigor.
Na noite das Audições, nem sempre ela estava presente para acompanhar suas pupilas declamarem, pois era ela quem ficava com o Murilo e a Raquel ainda crianças, mas tenho certeza de que lá de sua casa, bem próxima ao Minas Clube, ela ficava tentando ouvir o som do piano, a voz de suas alunas declamando e também os aplausos. Esses, eram sempre inevitáveis!

SURDEZ DE BEETHOVEN Autor desconhecido

Sofrimento atroz, angústia sem nome
Beethoven contrito, a amargura o consome
Fazem se os magos sons de esplêndida sonata
Silêncio tumular sucede as vozes gratas.

É que o gênio imortal, não mais
não mais ouvia,
Ensurdecera Deus,
O Deus das harmonias.

Foi nesse tempo, quando a desgraça o ferira,
que viajando, certa vez, agasalho pedira,
a u’a modesta vivenda,
à beira de uma estrada.

De músicos também, era a agreste morada,
Pai, filhos e mulher,
à noite, após a ceia,
adoravam no cravo, a mágica sereia.

O mestre, com a fadiga a ver se lhe na face,
entrou sem que ninguém soubesse,
ou ao menos suspeitasse,
Quem entrava assim no céu daquele lar.
Da casa, a gentil dama
oferta-lhe manjares. Conversa-se.
O pai senta-se ao cravo e toca.
E a família inteira exclama: Bravo! Bravo!

E é tanta a comoção que no auditório atua,
que Beethoven confessa a grande mágoa sua:
Ah! Que eu não posso ouvir a música sublime,
cuja beleza o olhar de cada um exprime.

Ah! Que eu não posso ouvir,
porque a surdez mo’veda.
A mim músico.
_diz magoado a quem o hospeda.

E cheio de tristeza, cheio de cansaço,
Mas ansioso também quer ver a partitura.
Quer ver quem é o autor de sons assim celebrados
que a tantos corações de músicos exalta.

Oh! Trágica surpresa! A música sublime
A divina beleza que os arrebata,
eleva-os e eletriza,
É do mestre sem par que os grandes mestres ouvem.

É a sonata magistral,
Do magistral Beethoven!

Pesquisa: Maria Zelia

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